
Seu peso é imperceptível perto da leveza que supõe. Aos poucos vai se atirando ao destino de ser pisoteada por alguém com pressa de chegar a lugar qualquer. O plano é natural e sempre o mesmo, migrar para onde houver verão. Porque fazer voar e aquecer são suas funções biológicas, seu compromisso vital. Ninguém sabe o que faz uma pena se perder do seu caminho, talvez a vontade de trocar de futuro, de estação, de paisagem. Ninguém pensa muito nisso, é uma pena. Só uma pena.
Voando sempre de acordo com a mesma rajada de vento, a mesma latitude, o mesmo bando, a paixão cansa e a ânsia de voar junto se esvai. E quando essa paixão acaba, o que era ritual vira rotina. Vai ver a pena também necessita de uns ventos súbitos. E se liberta da asa direita. Agora, a pena vaga livre, solta e disponível por aí. O que um dia foi parte integrante do todo, pertencente a um belo e raro pássaro, depois não passa de matéria em decomposição em alguma praça pública da metrópole. O amor é uma pena.
( Gabito Nunes )
( Gabito Nunes )